X-Men 97 puxa inspirações da experiência real de minorias
O quinto episódio de X-Men 97, “Lembre-se Disso”, repercutiu de maneira absurda nas redes sociais. A comoção foi tanta que Beau DeMayo, criador da nova animação do Disney+, quebrou o silêncio pela primeira vez desde sua demissão súbita pela Marvel Studios. Em uma publicação em seu perfil pessoal no X (Twitter) o roteirista explicou sobre como as tragédias da vida real inspiraram a história.
X-Men 97 é inspirado no mundo real?
![X Men Magneto](https://guetogeek.com.br/wp-content/uploads/2024/04/X-Men-97-Magneto-1024x576.jpg)
Entrando em spoilers, Beau DeMayo explica que o ataque terrorista repentino em Genosha foi pensado como uma analogia a grandes atentados do mundo real. Sendo assim, a maior inspiração para a sequência final do episódio foi a queda das Torres Gêmeas em Nova Iorque, no dia 11 de setembro de 2001.
O quinto episódio de X-Men 97 é chamado de “Lembre-se Disso” exatamente como uma homenagem às vítimas de massacres e outros eventos trágicos. A proposta foi retratar não apenas o terror destes eventos, como ainda o trauma deixado nos sobreviventes de ataques como Tulsa, Charlottesville e o massacre da boate Pulse. A dor deixada por ataques motivados por ódios a minorias do mundo real é a inspiração para a tragédia à população mutante na ilha de Genosha.
Confira a declaração completa de Beau DeMayo sobre o episódio
![Versão animada de Beau DeMayo](https://guetogeek.com.br/wp-content/uploads/2024/04/Beau-DeMayo-X-Men-97-Insert-edited.jpeg)
Sem abordar diretamente sua demissão misteriosa pela Marvel Studios, DeMayo explicou em detalhes o processo de criação por trás do quinto episódio de X-Men 97 e também sobre as inspirações para os temas e questionamentos da série. Confira:
“[Tenho recebido] muitas perguntas e por isso quebrarei momentaneamente o silêncio para responder. O Episódio 5 foi a peça central quando propus esta série para a Marvel em novembro de 2020. A ideia era fazer com que os X-Men espelhassem a jornada que cada um de nós, que cresceu com a série original, vivenciou desde que éramos crianças nos anos 90. O mundo era um lugar aparentemente mais seguro para nós, onde um personagem como a Tempestade comentava como o racismo baseado na cor da pele era “estranho” em A Volta do Fanático. Na maior parte do tempo, para as nossas mentes jovens, o mundo era um lugar simples de certo e errado, onde questões sobre identidade e justiça social tinham respostas relativamente claras e diretas.
Então aconteceu o 11 de setembro e o mundo se voltou contra si mesmo. As coisas não eram mais tão seguras. Os movimentos populistas de base começaram a surgir em todo o mundo enquanto uma nação inteira lutava para lidar com o trauma coletivo e uma fratura no coração de toda minoria. Efeitos que ainda sentimos hoje e só foram exacerbados por mais traumas coletivos como a COVID ou várias crises econômicas.
Para mim, pessoalmente, o 11 de setembro também foi quando saí do armário para minha família e percebi que nem todos me aceitariam. Foi quando entrei na faculdade e percebi que certos grupos me evitavam, ou que uma barbearia em Tallahassee se recusava a me atender porque não “cortavam cabelo de pretos”. A realidade que Jubileu descobriu no episódio 4 tornou-se muito real e assustadora. Isso aconteceu com muitas pessoas. Tínhamos filhos e conseguíamos empregos de alto risco. De repente, não era o suficiente para sobrevivermos. Tínhamos responsabilidades e pessoas cuja sobrevivência dependia do cumprimento dessas responsabilidades. Estávamos crescendo…
Se você era como eu, você assistia os episódios antigos da animação original em busca de conforto e de voltar para tempos mais fáceis. Só Deus sabe o quanto isso me salvou durante a COVID. Mas assim como Roberto alertou Jubileu, existe um certo perigo em viver no passado e se apegar à nostalgia. É perigoso não superar quem achamos que somos, como Ciclope e Jean estão aprendendo. Nos deixa estagnados e perigosamente alheios a um futuro que não previmos.
Sim, parecia que a história de Gambit estava seguindo uma direção específica. O cropped foi escolhido para fazer você gostar dele. Ele tirar a camisa foi intencional. Tem um motivo para ele ter falado para a Vampira que qualquer idiota sofreria na mão dela em uma dança, mesmo que não fosse ele. Se eventos como 11 de setembro, Tulsa, Charlottesville ou a boate Pulse nos ensinaram alguma coisa, é que muitas histórias chegam ao fim cedo demais. Eu dançava no Pulse. Era a minha boate de sempre. Tenho tantas ótimas lembranças de seu incrível salão branco. Era, como Genosha, um espaço seguro para mim e para todos como eu dançarmos, rirmos e sermos livres. Pensei muito sobre isso ao elaborar esta temporada e este episódio, em como a comunidade gay em Orlando se recuperou desse evento.
Como muitos de nós, que crescemos assistindo ao desenho original, os X-Men foram duramente atingidos pela realidade de um mundo adulto e inseguro. A vida aconteceu com eles. E eles, tal como nós, terão de decidir a que partes de si próprios vão se agarrar e a que partes vão abandonar, para fazer aquilo que eles têm dito que a humanidade deveria fazer: enfrentar um futuro incerto que nunca pensaram que ia acontecer. Como Trask disse ao Ciclope no episódio de estreia: “você não tem ideia de como é ser deixado para trás pelo futuro”. Agora os X-Men têm e, como cada um de nós, eles terão que avaliar se este é um momento para justiça social — ou como Magneto pregou em seu julgamento, se é um momento para cura social.”
O que sabemos sobre a demissão de Beau Demayo?
![Beau DeMayo misterioso](https://guetogeek.com.br/wp-content/uploads/2024/04/Beau-DeMayo-misterioso-edited.jpeg)
Em 12 de março, o portal americano The Hollywood Reporter confirmou a demissão de Beau DeMayo da Marvel Studios. O criador, showrunner e roteirista de X-Men 97 havia concluído seu trabalho na primeira temporada da animação e escrito também o roteiro da segunda temporada da série. O mais incomum da situação é a proximidade da demissão com a estreia da série, pouco mais de uma semana de diferença.
DeMayo não esteve no tapete vermelho, que aconteceu na noite seguinte, excluiu uma série de conteúdos do Instagram e temporariamente desativou sua conta no X (antigo Twitter). Nenhum comentário sobre os motivos oficiais da demissão foi divulgado pela Marvel Studios ou pelo cineasta, que deve estar sobre um rígido contrato de confidencialidade.
Em entrevista à Enterteinment Weekly poucos dias depois, Brad Winderbaum, chefe de streaming, TV e animação da Marvel, afirmou que a separação entre o roteirista e o estúdio foi amigável. “Eu não [chamaria de demissão],” declarou o executivo. “Nós nos separamos da melhor maneira, eu diria.”
Qual foi o motivo da demissão de Beau Demayo?
![Beau DeMayo provocando](https://guetogeek.com.br/wp-content/uploads/2024/04/Beau-DeMayo-provocando-819x1024.jpeg)
De acordo com fontes do The Hollywood Reporter, Beau DeMayou teria sido demitido pela Disney por conta de fotos sensuais que vendeu pelo site OnlyFans. O produtor é conhecido por seu físico definido e por exibir seu corpo com frequência nas redes sociais. Recentemente, a Disney enfrentou uma disputa por poder entre acionistas em que o principal concorrente era fortemente conservador, o que pode explicar a demissão próxima a reunião anual de acionistas.
Rumores ainda indicam um comportamento difícil nos bastidores, contudo, considerando o histórico permissivo da empresa com líderes controversos no passado, as chances de resultar em uma demissão são baixas. Fofocas parecidas surgiram após o estúdio demitir outra executiva LGBTQ+ no ano passado, a produtora executiva Victoria Alonso. Tais boatos maldosos parecem ser implantados para minar a credibilidade dos cineastas, mesmo que nenhum associado que trabalhou com os cineastas confirme os relatos.