Apesar de gameplay repetitiva, jogo se debruça em herança negra para construir uma narrativa cativante
Jogos como serviço, estéticas genéricas, histórias pouco cativantes. Não é de hoje que eventos como o State of Play e Xbox Games Showcase tem desanimado o público com produtos que parecem repetecos do que tem sido feito nos últimos dez anos. Felizmente, uma vez ou outra, surgem jogos como South of Midnight, aventuras narrativas que trazem exatamente o que a indústria precisa no momento: coragem.
Ficha Técnica

Título: South of Midnight
Plataformas: Xbox Series X|S e Game Pass
Data de Lançamento: 8 de abril
Gênero: Ação e Aventura
Desenvolvedora: Compulsion Games
Descrição: Aprenda o antigo poder de tecelagem, explore os mitos do Sul dos Estados Unidos e enfrente criaturas misteriosas neste conto popular trazido para os tempos modernos.
Muito mais do que um jogo “woke”

Em época de “pseudo batalhas morais” envolvendo a palavra “woke”, produzir um jogo protagonizado por uma mulher negra e ambientado em uma cidade que pulsa magia e herança racial não é uma tarefa fácil. A verdade é que South of Midnight parecia estar fadado a cair no esquecimento, não apenas pela sua história que confronta os “anti woke”, mas também pela sua desenvolvedora, a Compulsion Games, não ter a confiança do público.
Porém, assim como a história de South of Midnight não é fácil de se digerir, a situação do jogo não é tão simples. Pelo contrário, apesar de uma jogabilidade repetitiva, o jogo se mostrou o maior acerto da desenvolvedora até então.
Nele conhecemos Hazel Flood, uma garota comum que está em meio a um dos maiores tornados que já passaram pelo condado de Prospero. O que parecia apenas mais uma catástrofe natural ambientada no sul dos Estados Unidos, se tornou uma aventura gótica cheia de criaturas míticas e poderes sobrenaturais.

E este é o ponto alto de South of Midnight. A riqueza de detalhes do mundo de Hazel é inebriante. Com uma animação que remete a filmes como Homem-Aranha no Aranhaverso e Arcane, cada minuto pelos seus cenários coloridos são uma mistura de curiosidade e encanto.
Essa última palavra sendo um ótimo resumo para se entender desde os poderes de Hazel até as referências artísticas e narrativas do jogo. Para construir o mundo de South of Midnight, a Compulsion Games utiliza o folclore sulista americano e a herança racial para nos lembrar que o “encanto”, a “magia”, o “sobrenatural”, é algo comum na comunidade negra.
Por isso, não espere momentos de dúvida e surpresa de Hazel. A garota está pronta para tudo e, muito disso, tem relação a essa fama mítica que lugares como New Orleans possuem. É como se, em South of Midnight, a magia fosse algo tão corriqueiro quanto respirar, o que não é nada muito fora do comum quando falamos de religiões de matriz africana, por exemplo.

E, apesar de “não dar nome aos bois”, é nítido como todo o conceito de Weaver — ou Tecelã na tradução —, cargo mágico adquirido por Hazel durante sua aventura, bebe da fonte de deuses africanos como Anansi. Desde sua ligação com aranhas até entender o mundo como um tecido que precisa ser desembaraçado, o jogo parece estar interessado em tratar de trauma geracional e herança racial, conceitos pouco desenvolvidos no mundo dos jogos.
O que nos faz entrar em outro ponto importante do jogo: criatividade. Apesar de sua história cativante, South of Midnight peca na repetição. Enquanto a história de cada personagem consegue tirar um suspiro de compaixão do jogador, a jogabilidade nos força a repetir dinâmicas incessantemente.
Enquanto na primeira vez que adentramos uma “dungeon” é interessante e na segunda é desafiante, na terceira e quarta vez se torna quase enfadonho. Por outro lado, o jogo consegue balancear a falta de progressão na jogabilidade e a repetição com a forma em que é apresentado. Isto é, cada cenário e história são únicos, fazendo até o que já vimos milhares de vezes se tornar algo novo.

O curioso é como não é apenas a jogabilidade de South of Midnight que se encontra nessa luta entre novidade e mesmice. O jogo chega ao público em um momento curioso da indústria. Um que parece pouco disposto a dar chance a projetos ousados, mas, ao mesmo tempo, reclama de mais um jogo com a mesma estética, jogabilidade e ideia de sucessos de cinco anos atrás.
É nessa “faca de dois gumes” que ele se encontra. Podendo ser parabenizado pelas suas ideias e por trazer uma experiência nova em um mercado saturado, mas, ainda sim, ignorado por esses mesmos motivos. Em outras palavras, a história de Hazel é imperdível por vários pontos já citados, mas, principalmente, por dar um gostinho diferenciado quando tudo parece igual.
receba o mesmo carinho.
South of Midnight
Veredito
South of Midnight é o maior acerto da Compulsion Games. Com uma arte de tirar o fôlego e uma personagem cativante, jogo é uma experiência obrigatória para os assinantes do Game Pass.
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