Talvez esteja na hora para um novo ouriço assumir essa franquia…
Sonic sempre foi uma franquia sobre velocidade — pelo menos na prática. Na corrida dos games de plataforma, o ouriço azul perdeu o ritmo para o seu principal rival, Mario, há muito tempo. Mas isso nunca o impediu de tentar novas ideias. Dessa vez, revisitando o maior sucesso recente da marca, o herói decidiu passar o bastão do protagonismo para outro ouriço, o melancólico Shadow. E não poderia ter feito uma escolha melhor. Com mecânicas novas que resgatam o fôlego da franquia, Sonic x Shadow Generations mostra que os games do ouriço podem voltar a ter velocidade como um dia tiveram. Isto é, se abrirem mão de seu amado mascote.
Ficha Técnica
Título: Sonic x Shadow Generations
Plataformas: PlayStation 5, Xbox Series X|S, PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC
Data de Lançamento: 22 de outubro
Gênero: Plataforma
Desenvolvedora: Sonic Team
Distribuidora: SEGA
Descrição: Um encontro entre as melhores eras do Sonic com novas fases protagonizadas pelo Shadow.
O que funciona em Sonic x Shadow Generations?
Não que Sonic seja em si o problema. Mas o arsenal reduzido de habilidades que o personagem apresenta limita como a franquia pode evoluir. O ouriço azul é conhecido por ser o mais rápido de todos — e nada mais — enquanto seus amigos, além de correr, tem acesso a traços mais interessantes que podem abrir espaço para games mais criativos. Shadow Generations, a metade desta coletânea composta de fases inéditas protagonizadas pelo ouriço negro, é uma prova disso.
Com a mesma premissa que o aclamado Sonic Generations, a nova aventura do Shadow reúne releituras de momentos icônicos da franquia em fases inéditas cheias de adrenalina. O objetivo ainda é disparar por estradas com múltiplas opções de caminhos, repletos de inimigos, escolhendo a sua própria maneira de alcançar a linha de chegada. A diferença é que, enquanto o jogador precisa desacelerar em diversos momentos do game original, para encarar obstáculos que exigem uma maior precisão, em Shadow Generations o ritmo nunca tropeça. A sensação é que sempre estamos na velocidade máxima.
Seja voando, surfando ou controlando o fluxo do tempo, Shadow sempre tem uma nova carta na manga que permite com que o jogador supere as adversidades sem parar de acelerar. Com um pensamento rápido e o apertar de alguns botões, sempre existe uma forma mais eficiente de seguir em frente do que apenas correr como um mero mortal. O sentimento é de que, a cada novo poder descoberto pelo anti-herói, existe uma nova forma de conquistar as fases.
E esse clima de triunfo segue presente também nas fases tradicionais. Em Sonic Generations há uma clara distinção entre a jogabilidade moderna e clássica do herói, o que, apesar de funcionar muito bem como um tributo a história do personagem, cria uma quebra muito grande na imersão e na fluidez do game. Cada formato exigia uma mentalidade diferente do jogador e apresentava um ritmo diferente, o que não acontece em Shadow Generations. Dessa vez, a distinção soa mais como uma nova perspectiva. Um desafio extra de demonstrar domínio sobre os novos poderes do anti-herói — algo mais parecido com o que a Nintendo fez todos esses anos nos games do Super Mario.
Essa não é a única semelhança conceitual com a franquia do seu rival de maior sucesso. Sonic x Shadow Generations parece ter olhado para o que funcionou no recente Super Mario 3D World + Bowser’s Fury para entender a melhor forma de apresentar uma experiência inédita, que aproveite muito dos recursos do game original, mas que ainda experimenta com novas ideias que podem ser melhor aprofundadas em um game futuro. Shadow Generation parece exatamente isso — um vislumbre de como a franquia pode alcançar um futuro de sucesso.
Talvez a melhor prova disso esteja na seleção de mapas do título, muito mais interessante que o jogo original. Enquanto Sonic Generations celebrou os maiores sucessos da franquia, como Sonic & Knuckles e Sonic Heroes, Shadow Generations chafurda nos grandes fracassos da história do ouriço com uma ousadia louvável. Sem medo de se sujar, o game consegue encontrar ouro em um chiqueiro, entregando em suas releituras algumas das melhores fases da franquia inspiradas em uma verdadeiras atrocidades.
Um exemplo é Sonic The Hedgehog (2006), o catastrófico reboot que imaginava uma versão meio Senhor dos Anéis da história de Sonic. O realismo desnecessário e a confusa temática medieval deram origem a um dos mapas mais memoráveis do game, Kingdom Valley, que não tem medo de mergulhar na galhofa meio Sessão da Tarde que esse cenário tem a oferecer. Águias gigantes pegando o Shadow no meio do ar, grandes vitrais chiquérrimos sendo quebrados e uma forma única de navegar pelo vento trazem uma personalidade tão autêntica que poucas fases da história recente de Super Mario conseguiram alcançar.
As releituras de Sonic Forces e Sonic Frontiers, duas das maiores bombas recentes da franquia, também deram o que falar. O que só me deixou curioso para ver como os produtores honrariam o desastre que foi Sonic Boom, o quebrado exclusivo de Nintendo Wii U que rendeu uma ótima série de TV. Quem sabe não temos a sorte de explorar esse lado em uma futura DLC de Sonic x Shadow Generations?
O que funciona em Sonic x Shadow Generations?
Por outro lado, o conteúdo inédito ter funcionado tão bem acabou sendo um tiro no pé para a proposto original do game — ser uma coletânea da história do Sonic. Enquanto por um lado temos a nova experiência, refinada, com gráficos caprichados e pequenas melhorias que mostram como a franquia acompanha as tendências modernas de jogabilidade, Sonic Generations permanece congelado no tempo. Ele é exatamente o mesmo game que era há 10 anos atrás, com pouquíssima melhoria gráfica para sequer chamar de remaster, o que tem seus pontos positivos e negativos.
De certo modo, o jogo original nunca foi ruim. Ele oferece uma amostra razoável do que é a experiência de jogar Sonic nos meados dos anos 2010s e no final dos anos 1990s. As fases são vibrantes, capturando muito bem a personalidade dos jogos que as inspiraram, sem deixar de trazer alguma reviravolta para surpreender os jogadores. O charme está nos detalhes, o que acaba sendo também o que derruba essa experiência no momento atual.
Seja por economia ou decisão criativa, o jogo se recusa a trazer as pequenas melhorias vistas em Shadows Generations para Sonic Generations. E como as experiências são apresentadas lado a lado, em um único pacote, acaba ficando impossível ignorar como o game antigo ficou datado em um console de nova geração. Coisas pequenas, como o sistema de vidas, que entrou em desuso na maioria dos jogos modernos de plataforma, deixam um gosto barato neste lado da coletânea que poderia ter facilmente sido evitado.
Não seria um problema tão pronunciado se não fosse a decisão questionável de tirar a versão original de Sonic Generations, lançada em 2013, das lojas digitais. De certa forma, seria possível argumentar que não houveram grandes ajustes na experiência para permitir que uma nova geração acesse o jogo exatamente como ele foi pensado. Mas existia uma maneira bem acessível de consumir a experiência clássica de forma oficial que foi simplesmente retirada do ar para abrir espaço obrigatório para a venda da nova coletânea. Então se a preocupação não era com o melhor para os jogadores, era no melhor para quem?
SONIC X SHADOW GENERATIONS
Veredito
Sonic x Shadow Generations junta o melhor da franquia Sonic em um único pacote. Uma nova aventura empolgante e frenética, que aponta um futuro brilhante pela frente, e uma coletânea que homenageia o passado da série. Pena que não tenha tido tanto capricho em resgatar os clássicos, mas o carisma do conteúdo novo mais do que compensa.
Atenção: A versão utilizada para análise foi a do Nintendo Switch. O game foi adquirido de forma independente e não foi cedido pela assessoria.
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