Review: Princess Peach Showtime compensa jogabilidade rasa com carisma mágico

Review: Princess Peach Showtime compensa jogabilidade rasa com carisma mágico

Nada em Princess Peach Showtime deveria funcionar, mas ainda assim surpreende com charme de sobra

Velhos hábitos são difíceis de serem superados. Depois de décadas esperando por um encanador bigodudo para salvá-la, a donzela em perigo da franquia Super Mario Bros enfim dá um grande passo rumo à independência. Em Princess Peach Showtime!, novo game de Nintendo Switch, a princesinha que nunca precisou trabalhar na vida ataca de “Barbie profissões”. Só que, para a surpresa de ninguém, mesmo com uma série de empregos, Peach é ruim em tudo que se propõe a fazer. O chocante é que, ainda assim, existe um charme difícil de explicar que motiva o jogador a chegar até o final.

Ficha Técnica

Princess Peach Showtime

Título: Princess Peach Showtime!

Plataformas: Nintendo Switch

Data de Lançamento: 22 de março de 2024

Gênero: Minigames e plataforma

Desenvolvedora: GoodFeel

Distribuidora: Nintendo

Descrição: Princesa Peach explora diferentes gêneros em um jogo com base de plataforma

A Fantabulosa Emancipação da Princesa Peach

Princesa Peach dançando com fada fitilho
Princesa Peach é um passo na direção certa de uma dança mal planejada

Como costuma ser na franquia Super Mario, Showtime aposta em uma premissa bem simples e ao mesmo tempo cheia de potencial. Em uma ida ao teatro, as grandes estrelas de diferentes peças são sequestradas por uma vilã misteriosa e cabe a Princesa Peach assumir os papéis dos atores desaparecidos para salvar o dia.

Ao escolher trabalhar com algo tão imaginativo quanto o teatro como tema central, as possibilidades eram infinitas. Era a oportunidade perfeita para navegar entre diferentes gêneros e construir uma experiência verdadeiramente única. Porém, desde que este jogo foi revelado, era inevitável não ficar com um pé atrás em como tudo seria executado. Parecia bom demais para ser verdade.

Poderia ser um excelente jogo de plataforma com transformações que acrescentam uma saborosa variedade à experiência. Porém, existia uma certa tentativa em esconder o que acontecia entre as fases que apontavam para um outro caminho mais capenga. Showtime ameaçava ser apenas uma coletânea de minigames sem graça tentando parecer algo mais rebuscado… Infelizmente, com o jogo em mãos, meus temores foram confirmados, mas, no final, acabou sendo mais complexo que isso.

No que Princess Peach Showtime falha?

Princesa Peach Detetive observa homens amarelos suspeitos por trás de um jornal
Princesa Peach esconde seu potencial por trás de variedade vazia

O grande erro de Princess Peach Showtime é dispersar recursos. Existe uma visão do tipo de experiência que este jogo quer oferecer — quase como um resumo de tudo que a Princesa Peach poderia ter sido todo este tempo. Uma amostra de como seria se, por um dia, a donzela em perigo pudesse experimentar todas as transformações fantásticas que seu amado Super Mario pôde esbanjar ao longo das últimas décadas. Pena que nunca deixa de ser apenas isso: uma pequena amostra de um potencial grandioso.

Afobado em compensar o tempo perdido, o game sacrifica exatamente o que torna a experiência da consagrada franquia do bigodudo tão rica — a profundidade. Em um título tradicional da franquia Super Mario, nunca são introduzidos muito mais que dois potencializadores inéditos. E esse autocontrole tremendo, em acrescentar novidades a conta-gotas, permite que os desenvolvedores explorem cada ideia à exaustão, sempre brincando com novos usos e contextos de um mesmo poder. Assim, a experiência parece sempre evoluir e não é preciso ensinar muito aos jogadores. Tudo vem de forma natural.

Showtime anda na contramão dessa filosofia clássica da franquia. Não há comprometimento com nenhuma ideia por tempo o suficiente para que mostre todo seu potencial. Entra e sai fase, o jogo não sai do raso, nunca se aventura em uma profundidade mais interessante. E assim, no desespero para introduzir uma dúzia de transformações, o ritmo é quem mais sofre.

Princesa Peach Vaqueira correndo em cima de um cavalo em uma ponte quebrada por um bandido, também em um cavalo
Momentos roteirizados bem cinematográficos escondem jogabilidade rasa

Bem parecido com a experiência de um parque de diversões pobre em um dia lotado. Para acolher uma dúzia de transformações, a estrutura típica de “início, meio e fim” é substituída por uma inconstante montanha russa. Quando a experiência começa a evoluir, ganhando um pouco de momentum, o ritmo despenca para ensinar uma nova jogabilidade do início de outra transformação. Com o tempo, esse desbalanço até começa a ficar confortável. Porém, antes de conseguir se acostumar, a experiência acaba abruptamente.

Apenas uma fase é bem desenvolvida em cada transformação: a segunda, em que as ideias são exploradas de uma forma mais interessante. É quando a Peach Kung Fu enfrenta mais inimigos, a Confeiteira precisa encarar um apocalipse halloweenesco à lá Hora de Aventura… A necessidade de dividir a atenção do jogador entre uma dúzia de experiências diferentes sufocou o potencial de cada transformação. Não há tempo para que nada evolua em algo interessante, como acontece em outros jogos de Super Mario. Além desse segundo estágio mais caprichado, temos apenas a fase inicial, que funciona como um tutorial bem mastigado, e o desafio final, curto demais para causar um impacto maior.

Mesmo esbanjando transformações em excesso, a impressão que fica é que existe pouco conteúdo. Tudo porque, na frenesi de alternar a todo momento entre experiências diferentes, nenhuma fica com um gosto muito marcante e logo é esquecida. Talvez isso pudesse ser remediado com a presença de colecionáveis interessantes, que pudessem trazer algum desafio extra para os mais experientes. Algo que a desenvolvedora Good-Feel sabe fazer muito bem, mas não fez.

Princesa Peach Patinadora no meio de seus ajudantes amarelos em uma pose graciosa
Princesa Peach distrai de seus tropeços com um espetáculo visual

Esse estúdio tem um ótimo histórico em criar games simples, pensados especialmente para o público infantil, mas com algo a mais que ainda prenda os adultos. Um jogo para todas as idades, e não apenas para aqueles com um senso crítico em formação. E eles conseguiram alcançar essa harmonia em jogos passados, como Yoshi’s Wolly World e Kirby’s Epic Yarn, com extras interessantes, que não estão presentes em Princess Peach Showtime. Uma falta de capricho incomum para uma equipe tão conceituada.

No que Princess Peach Showtime acerta?

Princesa Peach em um canto fugindo de raios laser de um leão robo rebatendo na parede
Chefes trazem mais adrenalina à aventura

Ainda assim, os desenvolvedores surpreendem ao extrair o máximo de uma base super limitada que eles mesmos construíram. Para contornar essa falta de complexidade e de liberdade dos jogadores, o jogo esbanja momentos únicos construídos especialmente para trazer uma sensação de espetáculo. Perseguições à cavalo de trens em movimento, com a Peach Vaqueira, infiltrações na surdina com a Peach Ninja… Momentos especiais, super roteirizados, mas que fazem o jogador se sentir especial por conseguir fazer feitos incríveis, mesmo que não tenha exigido a menor habilidade em sua execução.

Esse é o grande segredo do game, na verdade. Como no teatro, Showtime se vale de truques e distrações para parecer maior do que realmente é. A experiência tinha tudo para ser frustrante. O ritmo é bagunçado; interações, limitadas; as mecânicas não evoluem; faltam objetivos secundários, mas ainda assim existe algo que estimula o jogador a ignorar o bom senso e continuar jogando.

Do início ao fim, os produtores encadeiam uma sequência de espetáculos viciantes que distrai completamente da parte mais frustrante da experiência. Migalhas de dopamina que fazem o game parecer mais saboroso do que realmente é. Ajuda que algumas transformações são de fato divertidas, como é o caso das apaixonantes Peach Patinadora e da Peach Sereia, que oferecem um vislumbre de como seria incrível um jogo dedicado inteiramente àquelas ideias. Inovam sem renegar o gênero de plataforma.

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Fantasia de “garota mágica” pode conquistar parte do público

E outro momento que injeta um brilho na experiência são as batalhas contra chefes. Perdem a oportunidade de usar as transformações, que o jogador gastou tanto tempo aprendendo a dominar. Mas, usando as habilidades mais simples da Princesa Peach, os chefões conseguem extrair maneiras criativas de desafiar o jogador — algo que falta nas demais áreas do jogo. São inimigos formidáveis, visualmente criativo e que fazem o jogador se sentir como uma super-heroína ao derrotá-los.

No fundo, esse é o motivo pelo jogo conquistar o coração de alguns jogadores, mesmo com seus defeitos. Equilibrando a simplicidade com o espetáculo, Princess Peach Showtime constrói uma aura parecida com os melhores animes de garota mágica, ou maho shoujo, de tempos mais antigos. Tem até uma surpresa dentro do game que comprova muito isso. Essa essência de transformar rotina em algo misterioso, grandioso e mágico… E derrotar vilões caricatos que mais divertem que aterrorizam… Igualzinho à Sailor Moon ou Cardcaptor Sakura.

Princess Peach: Showtime!

Gabriel Mattos

Peach deslumbrante, com vestido branco, em meio a estrelas
Narrativa
Jogabilidade
Visual

Veredito

Princess Peach Showtime pode conquistar por vender uma fantasia de poder muito bem arquitetada. Esta não é uma experiência para quem está procurando um bom desafio ou algum nível de profundidade. Porém, para garotas pequenas e gays emocionados, ou qualquer um que só está querendo passar o tempo com algo bobo, esta possa ser a experiência certa.

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