Jogo de mistério tem boas ideias que acabam sendo mal aproveitadas
Uma atriz narcisista, uma jogadora de xadrez pobretona e um incel esquisito entram em um bar. Poderia ser o início de uma piada qualquer, mas é apenas mais um dia comum em Best Served Cold. O novo jogo indie de mistérios da Rogueside convida os jogadores a assumirem as rédeas de um bar clandestino, em plena era da lei seca, enquanto investiga assassinatos e constrói conexões com os clientes. Uma premissa interessante que nunca atinge seu pleno potencial.
Ficha Técnica

Título: Best Served Cold
Plataformas: PC (Futuramente Nintendo Switch, PlayStation e Xbox)
Data de Lançamento: 5 de maio de 2025
Gênero: Visual Novel, Adventure
Desenvolvedora: Rogueside
Distribuidora: Rogueside
Descrição: Um bartender ajuda a polícia a resolver assassinatos misteriosos com um pouquinho de álcool e uma lábia tremenda.
Como é o lado “investigador”?

Diferente de outros games de investigação, como Ace Attorney, nesta visual novel o jogador não assume o papel de um detetive ou advogado, opções mais óbvias em uma história sobre crimes. Na verdade, o protagonista é um bartender, que acaba sendo coagido a ajudar um policial nada habilidoso.
Como o anime Bartender: Glass of God mostrou com maestria, quando o álcool entra e a solidão bate, as pessoas baixam a guarda e desabafam o que não deveriam com o chefe, o amigão, o camarada barman. Best Served Cold tenta aproveitar essa ideia para amarrar a jogabilidade de sua visual novel, gênero de histórias interativas, mas acaba sendo uma premissa subaproveitada.
O jogador tem 16 dias para concluir quem matou a vítima do momento, antes que o policial cobre por respostas. Para isso, como bartender, é necessário conversar com a clientela, juntar pistas e construir um quadro de suspeitos. Cada dia é possível servir apenas uma bebida ao cliente, então a escolha do drink precisa ser certeira.
Como é o lado “bartender”?

A maneira de preparar as bebidas não poderia ser menos interessante. Os casos contam com uma carta de bebidas, que muda quando são solucionados, e o jogador precisa apenas selecionar qual deseja preparar através de um menu. Uma oportunidade perdida por si só, já que não oferece qualquer oportunidade de criatividade ou expressão do jogador, algo esperado na fantasia de bartender.
Depois disso, começa um minigame muito similar a forma como os feitiços são lançados em Hogwarts Legacy. O jogador precisa seguir uma linha com o mouse até o seu destino. Completar este desafio, se é que dá para chamar assim, é tão automático, sem qualquer complicação ou profundidade, que ao invés de ser uma quebra interessante da sequência infindável de diálogos, não passa de uma mera formalidade. Uma burocracia. Uma experiência tão rasa e rápida que mal chega a ser registrado pelo cérebro humano. Completamente esquecível.
Para piorar, não há muito motivo para inovar na escolha de drink dos próprios clientes. Ao serem questionados, eles vão sugerir, de forma nada sutil, qual é a bebida de sua preferência. Esta opção é a que traz mais afeição e não há nenhuma consequência em escolher apenas essa alternativa na hora de servir a clientela. Pelo contrário, salvo quando é preciso embebedar o cliente para liberar algum diálogo específico, esta é sempre a melhor ideia.
Uma estratégia dominante em um jogo de conexões, por si só, quebra bastante a fantasia e a naturalidade da experiência, mas não seria um problema tão ruim se isso não se estendesse também para a própria investigação.
Best Served Cold é bom?

A princípio, conversar com o diverso elenco de personagens é bem interessante. Eles são todos figuras cinzentas, com intenções questionáveis, o que torna fácil duvidar de todo mundo. Falas incriminadoras surgem a todo momento, o que ajuda a descobrir rapidamente os possíveis motivos e conexões com as armas do crime. Porém, como os mesmos personagens retornam ao bar todos os dias e nem sempre com novas opções de diálogo, interagir com este elenco fica bem repetitivo bem rápido.
Em pouco tempo, todas as opções disponíveis foram exploradas e resta apenas esperar para que um evento programado faça com que algum personagem deixe escapar uma informação nova que pode ser crucial para a investigação. Essa falha de cálculo dos desenvolvedores acaba fazendo com que um jogo que deveria ser sobre escolhas pareça mais como uma grande aventura roteirizada, que pouco importa as decisões do jogador.
Apesar destes tropeços, Best Served Cold ainda oferece uma experiência agradável. Muito graças ao charme da ambientação do jogo. A história se passa em uma Europa fictícia, em um passado em que a proibição do álcool está em pleno vigor. Entre fofocas de intriga e futilidades, os personagens acabam deixando escapar pérolas valiosas sobre o intrigante mundo ao seu redor que te deixam curioso para saber mais.

Ironicamente, parece que o mundo fora do bar, que nunca vemos, é muito mais interessante do que o que acontece bem na sua frente. Os personagens até tem uma profundidade razoável e personalidades cativantes a ponto de que é possível se perder torcendo por suas relações, como se realmente fossemos um bartender envolvido com a vida dos clientes. Porém, os mistérios em si costumam ter desfechos pouco criativos e emocionantes.
No final, cada minuto no mundo de Best Served Cold me fez pensar que eu preferia muito estar jogando Coffee Talk, que tem uma premissa parecida, mais leve e relaxante, mas sabe aproveitar muito melhor seu cenário para envolver os jogadores. O jogo da Rogueside faz ao contrário. Ao invés da sensação inebriante de apreciar um bom drink, a experiência deste game está mais para a dolorosa ressaca do dia seguinte.
Best Served Cold
Veredito
Se fosse uma bebida, Best Served Cold seria um drink enlatado de uma marca genérica. Tem todos os ingredientes, mas não está em sua melhor forma. Longe de ser uma caipirinha na praia.
Jogo analisado com uma cópia gentilmente cedida pela assessoria do Rogueside para PC.
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