Review: Another Crab’s Treasure um combate acessível e muitas risadas

Another Crab’s Treasure mostra o fundo do mar de uma forma como você nunca viu

Soulslike foi um gênero que se popularizou na última década com jogos como Dark Souls e Lies of P, além de várias outras produções usarem certas inspirações do gênero, seja no combate metódico, sua construção de mundo ou somente a dificuldade. Ao longo desses anos os soulslike já nos levaram para mundos de fantasia, futuristas e agora com Another Crab’s Treasure vamos para o fundo do mar em uma mistura curiosa entre Bob Esponja e Dark Souls.

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O mar não tá pra peixe

Em Another Crab’s Treasure estamos no controle de Krill, um pequeno caranguejo que vive tranquilamente não fazendo nada em uma pequena piscina no meio do mar com a sua concha. Certo dia, um tubarão agiota toma sua pequena concha já que ele não pagou os impostos estabelecidos pela nova rainha daquela região.

Sem saber o que fazer, nosso pequeno herói embarca em uma jornada longa pelo grande mar para recuperar seu grande tesouro. Apesar da premissa bem simples e o visual bem colorido e cheio de vida, se você espera que ele teria uma história boba e sem muito destaque está enganado.

A desenvolvedora do jogo Aggro Crab, que anteriormente desenvolveu Going Under, consegue trazer diversos questionamentos quanto ao sistema capitalista, entre as principais questões sobre o meio ambiente e o estrago que uma grande empresa pode causar ao tomar conta de uma pequena cidade. Os personagens de apoio que encontramos ao longo do caminho também enriquecem ainda mais essa crítica, mostrando o impacto que a busca irrefreável por lucro pode ter e como alguém que idolatra um bilionário não é capaz de mudar de opinião mesmo confrontado com a verdade. Infelizmente quando o jogo foca mais em seu lado místico ele acaba perdendo um pouco do que o torna tão divertido e interessante e acaba sendo até mesmo um pouco derivativo.

Mas apesar de crítico, o jogo não perde seu humor em nenhum momento, em cada uma das regiões você vai encontrar algumas outras criaturas marinhas que tem diálogos hilários, além de trocadilhos que foram perfeitamente traduzidos para o português.

Seus cenários também conseguem trazer humor e crítica. Durante toda a sua jornada você não vai encontrar um mar bonito como se espera em grande parte dos jogos. Apesar de ser belo, em Another Crab’s Treasure o mar está tomado por lixo. É comum encontrar palitos de picolé, papelão, canudos e diversos outros tipos de restos que são jogados no mar todos os dias. Se você parar para prestar atenção nos textos de cada um desses objetos, pode render ótimas risadas e também muita cor, algo que não é nem um pouco comum soulslike.

O Lixo de um caranguejo é o tesouro de outro

Como sua inspiração é em primeiro lugar jogos como Dark Souls e afins, o combate de Another crab’s treasure é metódico e tem seu foco em defender ou desviar até encontrar o momento certo para atacar. Mas com isso entramos no que torna ele mais amigável e também mais único do que grande parte das produções do gênero.

Nosso pequeno caranguejo não tem uma barra de stamina, então é possível rolar e atacar o quanto quiser, sem a preocupação do personagem ficar cansado no meio de algum golpe. Na defesa temos a principal mecânica do jogo que são suas conchas. Logo no início da jornada de Krill ele encontra uma latinha de refrigerante que serve como sua concha, fazendo com que ele possa utilizá-la para bloquear ataques e também utilizar a habilidade especial, que no caso da latinha é lançar pequenas bolhas de gás que causam dano no adversário.

Ao todo temos mais de 50 conchas diferentes que variam de um copinho de shot até uma bola de boliche, e eles vão moldar um pouco o estilo de cada jogador já que não adquirimos novas armas além de seu pequeno garfo, mas que ganha novas habilidades com o progresso do jogo.

Usando uma concha mais pesada sua defesa é ainda maior, mas a rolada de Krill é mais lenta e o oposto com uma mais leve e depois de receber uma quantidade de dano ela é quebrada e o protagonista fica um pouco mais indefeso. Para tornar a experiência toda ainda mais tranquila, os inimigos, principalmente os chefes, não tem uma grande variedade de ataques, se tornando bem mais fácil entender o padrão de cada um deles e com isso deixado bem menos frustrante do que outros jogos do gênero.

E mesmo sendo mais simples, eles conseguem reproduzir muito bem a sensação de chegar em um chefe colossal pela primeira vez e a satisfação ao derrotá-lo, assim como quaisquer outros soulslike. Tudo isso sem perder seu humor, trazendo alguns momentos que podem ficar marcados por muito tempo para o jogador.

Mas enquanto os chefes trazem uma experiência extremamente divertida, o mesmo não pode ser dito para os confrontos com os inimigos normais pelo cenário. Ao longo da jornada vamos encontrar alguns tipos de criaturas marinhas diferentes, cada uma com suas particularidades, seja os cavalos marinhos que cospem pequenas cápsulas mágicas que se transformam em bichinhos em contato com a água, ou vários tipos diferentes de caranguejos, seja alguns pequenos ou outros maiores com uma espécie de arco e flecha ou um martelo.

O problema é que algo que no início parece variado, ao longo da sua jornada vai se tornando cada vez mais repetitivo, onde as novas áreas vão trazer diversos inimigos parecidos com os do local anterior, mas com uma nova coloração ou algum outro detalhe diferente. Apesar de divertido, o combate não vai se alterar muito ao decorrer da jornada, na reta final pode se tornar um pouco entediante enfrentar os inimigos mais simples.

Another Crab’s Treasure é dividido em algumas áreas que conseguem misturar muito bem suas inspirações. Grande parte delas oferecem uma grande verticalidade e uma boa quantidade de coletáveis e desafios com o foco nos pulos para quem gosta de explorar e passar por esses desafios, que na maior parte são muito divertidos, com exceção de alguns poucos que são afetados pela câmera ou então algum pequeno bug. Mas no lado da ação, o jogo mostra muito sua inspiração especialmente em Dark Souls, ao longo da jornada podemos ver uma vila de lixo, onde somos bombardeados por arqueiros, assim como Anor Londo ou então uma fase inteira cercada por um grande mar de petróleo que pode deixar Krill envenenado.

Mas para alguém com algum problema no aspecto de dificuldade, ou simplesmente não gosta do estilo do jogo, ele traz uma infinidade de opções de acessibilidade. Temos coisas mais simples como reduzir a velocidade do jogo, o dano que os inimigos causam e até mesmo não perder os itens ao morrer. Mas caso tudo isso ainda não seja o bastante para você, é possível colocar uma arma de fogo no lugar da concha de Krill que mata qualquer inimigo somente com um tiro, sendo a alternativa mais fácil e também extremamente peculiar e engraçada.