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DiversiGames: Projeto que muda a vida de jovens periféricos chama atenção na gamescom latam

DiversiGames cursos

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O projeto carioca DiversiGames esteve na gamescom latam prometendo expandir atuação

Após outra corrida eleitoral polarizada, as redes sociais brasileiras seguem inflamadas com uma guerra de narrativas que permeia qualquer assunto, até mesmo os games. De um lado, jogadores defendem jogos mais inclusivos. Do outro, fãs atacam qualquer diversidade como um movimento “woke” da indústria. E enquanto essa disputa evolui no campo das ideias, aqui fora o problema permanece o mesmo. Quando olhamos quem trabalha nesta indústria, pretos e pardos quase não existem neste ramo. Durante a gamescom latam, uma empresa social apresentou um caminho para gerar mudanças reais: a DiversiGames.

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DiversiGames apresentou seus jovens no palco da gamescom latam

Afinal, os dados são alarmantes. Com uma população composta em 55% de pessoas pretas e pardas, no mercado de tecnologia, este recorte não ultrapassa a marca de 3%. Há uma diferença enorme nas oportunidades oferecidas a estas pessoas, que Mariana Uchôa, co-fundadora da empresa, pretende sanar através do conhecimento.

“A indústria dos games é uma indústria bilionária e a gente ouve isso em muita palestra,” explica a diretora de conteúdo, “A indústria dos games é maior do que cinema e música juntos. Ou seja, o dinheiro está na mesa. A questão é: quem é que vai acessar essa grana? Então, acho que o nosso trabalho tem sido mudar esse cenário.”

Mariana Uchôa

Ao lado do empresário musical Ricardo Chantilly, a empresária fundou a DiversiGames no Rio de Janeiro. O foco é atender, em um espaço com infraestrutura de ponta, crianças de comunidades periféricas. Historicamente, esse grupo vem de famílias com um menor poder aquisitivo e também uma menor mobilidade social. E, sendo assim, são os mais impactados pelo projeto.

A empresa também abraça jovens pretos, LGBTQ+, PCDs e de outras minorias, oferecendo ferramentas para que consigam mudar a sua história. Aqui, estes rótulos não representam apenas pixels através de uma tela. São marcadores de pessoas reais que sofreram com menos oportunidades por serem quem são. E o projeto permite reescrever uma vida de opressão através dos games. “A gente está muito empenhado em mudar a indústria dos games. Em levar outros rostos, outros corpos, outras pessoas… Conseguir ampliar essa indústria, ampliar as possibilidades de narrativas, as possibilidades de caminhos ali, amplificando vozes,” defende Mariana.

DiversiGames Mariana Uchoa
Mariana Uchôa, co-fundadora do projeto, falou sobre sua paixão pela transformação social

A empresária explica que a DiversiGames consegue promover essa mudança em duas frentes: oferecendo aulas de programação de jogos, para quem quer seguir essa área, e um espaço de contato com os games online do momento, como Fortnite e FreeFire.

A principal preocupação não é garantir que todos permaneçam atuando na área da tecnologia. Afinal, cada aluno tem sua vocação. Mas se conseguir diminuir o abismo de acesso à tecnologia que este grupo tem em relação a moradores de outras áreas da cidade, como a Zona Sul, já será uma transformação imensa.

“Eu me lembro, no primeiro dia de aula em Benfica, teve um menino que sentou e falou assim: ‘Que honra sentar numa cadeira como essa!’ Então às vezes é tão pouco, né, mas não é tão pouco [para quem participa],” explica. “É um jovem que vai começar a usar o computador, que vai fazer o seu e-mail pela primeira vez… Hoje, a gente está com cerca de 200 pessoas no Rio de Janeiro. A gente não vai formar 200 pro-players, mas a gente forma 200 pessoas que vão pro mundo de trabalho, que vão pra vida diferentes, incluídos digitalmente, letrados digitalmente.”

Mariana Uchôa

Com essa mentalidade, a empresa quer ir além do alcance atual. A DiversiGames conta com dois polos em áreas periféricas do estado do Rio de Janeiro: um em Benfica, outro em Niterói. Porém, a ideia é expandir para novos estados, para além do sudeste. E para alcançar esse objetivo, de expansão nacional, a empresa quer primeiro se consolidar em um ponto estratégico: a cidade de São Paulo.

DiversiGames Jamela
Jamela, Maluzita e outros jovens embaixadores da DiversiGames curtiram o evento

O plano é conquistar a atenção do mercado de games e de marketing com uma forte atuação local para então, com novos patrocinadores, levar o projeto a outras regiões. Em cada novo território, o grupo de impacto social pretende adotar uma tática diferente, que mire diretamente no maior problema da comunidade local. Em São Paulo, segundo Mariana, isso significa olhar com atenção para as pessoas em forte dependência química.

“Em São Paulo, nós não vamos estar nas periferias, nas favelas, que é como a gente está no Rio de Janeiro. A gente vai estar no centro de São Paulo, atuando com essas pessoas em situação de rua e as pessoas que estão no seu entorno, ou seja, em vulnerabilidade, em possibilidade de, mais a frente, virar uma pessoa que faz uso abusivo de drogas. Então esse aí é o nosso próximo passo olhando para essa expansão nacional.”

Mariana Uchôa

Olhar para esses grupos minorizados e realmente enxergá-los como pessoas, entender suas dores e necessidades para além das suas opressões, é o que torna o projeto tão especial. Com essa perspectiva de respeito e acolhimento, a empresa conseguiu lançar diversas vozes, como o apresentador Jamela e o pro-player Renanzin. Vozes que já existiam e que foram ouvidas e amplificadas pela DiversiGames.

“A gente vê muito projeto social, muita ação de impacto falando sobre dar voz. A DiversiGames não está interessada em dar voz para ninguém. Todas essas pessoas têm suas vozes, têm uma história, têm suas histórias com muita potência. A gente quer amplificar essas vozes, a gente quer mostrar que essas pessoas existem e que elas têm uma capacidade gigante de transformar a indústria dos jogos. E para isso a gente usa a educação, a gente usa a tecnologia, a gente usa inclusão digital para isso, com esse objetivo.”

Mariana Uchôa
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