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Crítica: Adaptação de Uzumaki é o alerta do que acontece quando o capitalismo dita o ritmo da arte

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Animação tem altos apesar de alguns problema

Como anime, Uzumaki, de Junji Ito, é um ótimo mangá

Falar sobre as adaptações de Junji Ito é como chover no molhado. Ou no caso de Uzumaki, fazer um espiral em meio a um tornado. Ao longo dos anos, o mangaká construiu uma carreira de mestre do horror enquanto suas obras eram adaptadas de forma, no mínimo, controversas. Uzumaki, por sua vez, produção da Adult Swim, prometia agradar a todos, porém, o capitalismo parecia ter um objetivo diferente para a animação.

Uzumaki é uma espiral de expectativa, ânimo e frustração

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Equipe criativa teve problemas com produção

E, talvez, perceber o potencial criativo estabelecido no primeiro episódio em comparação ao restante seja o mais doloroso. Apesar de seu tom corrido e das histórias de Ito se entrelaçarem como um espiral, o primeiro episódio de Uzumaki parecia ter todo o necessário para fazer História: animação de qualidade, um roteiro satisfatório apesar da complexidade do material base, um trabalho de dublagem e direção que não deixava a desejar.

Porém, os três episódios seguintes, ao invés da crescente que se prometia, foram ladeira abaixo. Jason DeMarco, produtor da série, explicou que essa queda era algo esperado pela própria equipe criativa, deixando claro que o maior culpado da frustração por trás de Uzumaki é o capitalismo. 

“Não posso falar sobre o que aconteceu, mas fomos sacaneados, e restavam somente as opções: Um, não terminar o anime, não exibir nada e assumir a derrota. Dois, terminar e exibir apenas o primeiro episódio, deixando a série incompleta. Três, exibir os quatro capítulos, com defeitos e tudo. Por respeito ao trabalho duro de todos, escolhemos a última”, explicou o produtor Jason DeMarco no Bluesky (via Jovem Nerd).

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Episódios finais frustram ao entregar um trabalho abaixo do primeiro episódio

A grande ironia por trás dessa situação é esse embaraço ter acontecido logo com Uzumaki. As obras de Junji Ito já se tornaram desde live-action até animações, porém, foi com a história de um espiral que os riscos do capitalismo no meio criativo ficaram mais evidentes.

Logo em um enredo de uma cidade que se vê retornando a pura selvageria e loucura, aprisionando seus habitantes em velhas crenças, que a equipe criativa se viu em uma decisão sem ganhos: lançar o material produzido e admitir os erros ou não lançar e continuar nessa expectativa.

Em outras palavras, terminar com a espiral de frustrações vividas por vários fãs do autor ou continuar em uma espiral de expectativa construída com o primeiro trailer de Uzumaki.

“Vamos falar de coisa boa, vamos falar de Tekpix”

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Primeiro episódio nos lembra que não é impossível adaptar Junji Ito

E é por isso mesmo, por já estar cansado dessa onda em que apenas derramamos ódio em adaptações medianas baseadas em Junji Ito, que vou fazer algo diferente nessa review: apontar o que havia de bom.

Apesar da qualidade estética presente nas páginas de Uzumaki, existe algo que Junji Ito não é capaz de entregar quando falamos em espirais: seus movimentos. Desde seus primeiros minutos, a adaptação deixa claro que o grande interesse é dar vida a esse símbolo, fazendo com que o próprio espectador se sinta atraído pelo seu movimento hipnótico.

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Cena dos episódios finais de Uzumaki

Curiosamente, isso se espalhou na própria construção do roteiro. Ao invés de tentar adaptar cada momento ao pé da letra, a animação decide fazer o oposto e tornar toda a cidade um antro do espiral. Não estamos mais falando de histórias com inícios e fechamentos únicos, mas de uma loucura sem fim que acontece, literalmente, em todo lugar e ao mesmo tempo.

Alguns viram nessa mudança algo ruim, mas, para mim, se tratou de uma aceitação do produtor em relação ao seu material base. Isto é, ele sabia que não teria como entregar a totalidade de Ito em quatro episódios, por isso, optou por torná-la mais palatável e, para isso, abraçou o caos que é Uzumaki.

A Maldição do Espiral

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Cena da adaptação de Uzumaki de 2000

Infelizmente, esse fôlego do primeiro episódio se perdeu como se Uzumaki também fosse uma vítima do Lago Libélula. O que antes parecia ser uma história que toda a equipe criativa entendia e preservava, se tornou algo torto e esquisito. Já animação seguiu o mesmo caminho, se tornando desajeitada e feita às pressas.

Apesar disso tudo, acredito que o potencial da adaptação de Uzumaki nos mostra que é possível dar vida às criações de Junji Ito. Que elas podem chegar a todo tipo de mídia, basta que a equipe tenha o tempo necessário para fazer a produção amadurecer.

A questão agora é se — assim como a Maldição do Espiral ataca de tempos em tempos —, teremos que esperar mais 24 anos para que mais alguém tenha coragem de adaptar Uzumaki novamente.

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