Mitologia natalina é reimaginada em uma fantasia pensada para adultos que diverte também os mais jovens
O Natal tem um gostinho diferente depois que a gente cresce. Quando se é criança, tudo parece muito mágico — a comida, os presentes, a decoração. Simplesmente tudo surge do nada, certa noite, para criar um momento especial em família. Mas conforme o tempo passa e as responsabilidades da vida adulta aumentam, acaba se tornando apenas um dia de folga merecido em meio a uma rotina conturbada. Operação Natal, novo filme de Chris Evans e The Rock, pega emprestado a conhecida fórmula Marvel para traduzir exatamente este sentimento cético em uma envolvente aventura, cheia de ação e humor.
Ficha Técnica
Título: Operação Natal (Red One)
Estúdio: Amazon MGM Studios
Estreia: 7 de novembro
Duração: 2h 13min
Gênero: Ação, comédia
Diretor: Jake Kasdan
Roteirista: Chris Morgan
Elenco: Dwayne Jhonson (The Rock), Chris Evans, Lucy Liu, Kiernan Shipka, J.K. Simmons e mais
Sinopse: Uma organização misteriosa sequestra o Papai Noel e cabe a seu guarda-costas Cal Drift e o hacker ranzinza Jack O’Malley resgatá-lo de forças mitológicas.
O que esperar de Operação Natal?
De cara, preciso alertar que o filme sofre de um problema bem conhecido nas produções de Hollywood: o ego estratosférico de Dwayne Johnson. Talvez por não ser o protagonista, The Rock está sempre desesperado em ser o centro das atenções, com monólogos desnecessários e um monopólio completo das cenas de ação. Não chega a distrair da trama principal ou a ofuscar a diversão, mas para quem está cansado deste lado carente do careca mais simpático de Hollywood, fica o aviso — prepare-se para um excessivo tempo de tela do gigante musculoso.
Na trama, ele assume papel de Cal Drift, o guarda-costas pessoal do Papai Noel que está prestes a se aposentar quando vê seu patrão ser sequestrado bem debaixo de seu nariz. E o culpado de tudo isso é o protagonista de fato, Jack O’Malley (Chris Evans), um hacker egoísta que aprendeu desde cedo a esperar o pior de todos. Cúmplice por acidente deste terrível crime, ele vai precisar trabalhar ao lado de Cal, mesmo contra sua vontade, para resgatar o bom velhinho de uma organização misteriosa.
Sem grandes reviravoltas ou reflexões complexas, Operação Natal se propõe a ser uma simples e direta aventura. Uma jornada cheia de ação por um mundo fantástico — não muito diferente de Jumanji: Bem-Vindo à Selva (2017), outro trabalho recente do diretor Jake Kasdan. Não espere planos de câmera muito criativos ou uma estética inovadora. A grande preocupação da produção é fazer o básico muito bem feito. Sem ousar, mas também sem cometer grandes tropeços — algo comum na indústria massiva de filmes de super-heróis.
Afinal, mesmo não se vendendo como tal, Operação Natal é um pomposo longa de super-heróis, com poderes, espiões, monstros e tudo que tem direito. Se não fossem os personagens originais, poderia facilmente passar como uma produção da Marvel Studios em sua era de ouro. Até mesmo os arquétipos de seus personagens lembram bastante os heróis da infame Casa das Ideias.
Jack O’Malley, o anti-herói sarcástico cheio de defeitos, invoca a mesma aura do Tony Stark, de Robert Downey Jr — o que chega a ser irônico, já que é interpretado logo por Chris Evans. Cal Drift combina a personalidade do Capitão América com os poderes do Homem-Formiga, inclusive sua relação com brinquedos do primeiro filme do herói. Garcia, o urso polar humanoide, preenche o papel do Hulk, enquanto a diretora Zoe, personagem de Lucy Liu, exala a mesma energia que a Viúva Negra, em suas poucas aparições. A própria vilã Gryla, da atriz de Sabrina (Kiernan Shipka), entrega uma versão natalina de Emma Frost que os fãs dos quadrinhos vão curtir.
Se por um lado essa repetição afasta quem está cansado de um gênero que recicla as mesmas ideias por mais de uma década, ajuda a criar um sentimento instantâneo de nostalgia que combina estranhamente com a proposta natalina. A forma que os personagens interagem entre si, a dinâmica nas cenas de luta, o uso ponderado de um humor sarcástico — tudo remete ao que se esperaria de um filme dos Vingadores.
Ainda sobra espaço para umas referências inusitadas. Afinal, quando que você esperaria uma referência à prisão do Sandman em um filme sobre o Papai Noel? Ou demônios de efeitos práticos que lembram monstros do Guillermo Del Toro? Funciona mais que atrapalha. Ao menos a direção sabe aproveitar essa reciclagem para manter um ritmo confortável para a narrativa, que está sempre trazendo novas ameaças, novos mistérios, sem enrolação e sem subestimar o público.
O roteiro não precisa, por exemplo, gastar muito tempo criando uma conexão entre os personagens e o público. Ele sabe que vai haver uma associação inconsciente com outros filmes bem conhecidos. E assim, economiza tempo em partes mais triviais que é investido em construir uma personalidade mais interessante para a história: principalmente na fantástica construção de mundo.
Esqueça tudo o que você sabe sobre o Natal — os elfos, o Polo Norte, o próprio Papai Noel. Bem, tudo está aqui, de certa forma. Mas dessa vez, tudo é bem diferente. Ao invés da clássica roupagem fofinha, a mitologia natalina é apresentada de uma forma bem moderna de alta fantasia. Cada nova criatura mística apresentada aprofunda ainda mais este universo de magia. É um Natal como nunca se viu. De tão envolvente, impossível não ficar na torcida para mais filmes nesse estilo que expandam esta mitologia: um Operação Páscoa, Operação Halloween, Operação Dia dos Namorados e o que mais for.
Com um elenco recheado de estrelas, efeitos visuais competentes e um roteiro bem direto, Operação Natal entrega uma aventura empolgante para o fim de ano em família. Nada revolucionário. Mas a nostalgia de reproduzir com competência uma fórmula consagrada traz aquele quentinho no coração que tanto combina com o período de Natal. Não é um clássico atemporal, como Duro de Matar. Mas quem sabe não se torna um queridinho moderno?
Operação Natal (Red One)
Veredito
O que falta de originalidade na estrutura do filme, a produção compensa com universo rico que transforma a mitologia natalina em alta fantasia. O elenco cheio de estrelas consegue convencer em uma aventura digna da Marvel Studios. Pena que o Dwayne Johnson tente ofuscá-los boa parte do tempo.
Leia também: