Flow, longa da Letônia, é o favorito para o Oscar por um bom motivo
Quando O Robô Selvagem perdeu o Globo de Ouro de Melhor Animação, fui pego de surpresa. Apesar do começo lento, era um filme incrível, muito acima da média. Qual seria o longa capaz de superar sua grandiosa epopeia de maternidade? A minha dúvida não durou muito tempo quando assisti Flow, a história de um gatinho que constrói uma família nada convencional para sobreviver a um cataclisma climático.
Ficha Técnica
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Título: Flow (Straume)
Estúdio: Mare Filmes
Estreia: 20 de fevereiro
Duração: 1h 25min
Gênero: Animação, aventura
Diretor: Gints Zilbalodis
Roteirista: Gints Zilbalodis e Matīss Kaža
Sinopse: Quando o nível dos mares começa a subir, inundando todo o mundo, um gato luta pela sobrevivência em um barco improvisado com um grupo de novos amigos.
Flow é o favorito ao Oscar — por um bom motivo
A obra não só foi indicada ao Oscar na mesma categoria, como também conquistou uma nomeação a Melhor Filme Estrangeiro, concorrendo diretamente com Ainda Estou Aqui — um feito raro para um longa animado. Mas basta assistir a poucos minutos da trama para captar o motivo: Flow entende emoção como nenhum outro filme.
Este não é mais um longa em que animais falantes tentam conquistar as crianças com frases engraçadinhas e uma personalidade cartunesca. Os produtores decidiram seguir pelo caminho difícil e se desafiaram a levar a comunicação não-verbal ao extremo. Nesta história, os animais agem como animais, soam como animais e, mesmo assim, entendemos perfeitamente o que querem dizer.
Do cachorro à ave-secretária, todos os bichos têm uma personalidade muito bem definida, que mergulha nos estereótipos do que esperamos de cada espécie. O lêmure é supérfluo, apegado demais a coisas materiais, enquanto a capivara não poderia ligar menos para tudo que acontece ao seu redor. Com tantos jeitos carismáticos de cada bichano, difícil escolher seu favorito, mas o que mais brilha com certeza é o enigmático gato preto.
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Não surpreende que tenha sido escolhido como o protagonista da história. Sua natureza desconfiada e distante é perfeita para construir um arco de evolução bem clara para o personagem. Não é o melhor em demonstrar seus sentimentos, mas os momentos em que consegue superar seus próprios bloqueios são os mais emocionantes do filme.
Por apostar na familiaridade do público com seus personagens, espelhos fieis das contrapartes reais do mundo animal, o longa consegue desenvolver seu roteiro de forma direta e econômica. Sem precisar perder tempo apresentando o elenco, sobra espaço para focar em como eles são afetados pelo instável mundo ao seu redor.
Enchentes, predadores, exílio… Toda situação parece grande demais para um mero animal resolver sozinho. E é então que eles brilham como uma verdadeira família, ajudando um ao outro nos momentos de crise, mesmo que tenham suas diferenças.
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Entre picos e vales, Flow é um filme que consegue acessar a empatia do público em sua forma mais instintiva. Não é uma trama para se refletir. É uma história para sentir. A simplicidade dos bichos desarma as defesas humanas de uma maneira intrigante que só é possível entender assistindo. Uma experiência verdadeiramente única, que justifica a nomeação inédita na história da Letônia.
Flow
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Veredito
Cinco animais contra um mundo hostil. Uma premissa tão simples não tem o direito de render uma história tão incrível quanto Flow. Mas, um roteiro inteligente e uma animação de qualidade provam que o poder de uma história está em como ela é contada.
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