Crítica: Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa é o melhor filme para levar as crianças nas férias

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa Capa

Com roteiro simples e humor certeiro, novo projeto está entre os melhores da Turma da Mônica

Depois de Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo, é de um alívio tremendo ver que a Maurício de Sousa Produções ainda tem boas histórias para contar nas telonas. Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, novo filme da franquia, adapta de forma certeira o personagem mais carismático da turminha. Em muitos momentos, o roteiro parece tirado direto dos quadrinhos. O foco é em enaltecer os elementos que tornam o original tão adorado: o humor bobo, a simplicidade e a inocência do protagonista.

O que achamos de Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa?

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa Ze Lele

Não teria nenhuma chance do filme dar certo se o ator mirim escolhido para protagonizar a trama não convencesse como Chico Bento. Nesse quesito, a decisão do diretor Fernando Fraiha de escalar um influenciador para assumir o prestigiado papel não poderia ser mais arriscada. Afinal, pergunte a Suzana Vieira: personalidades digitais não tem o melhor histórico na atuação. Felizmente, o pequeno Isaac Amendoim foge a regra.

O menino é um absoluto fenômeno, um poço sem fim de fofura. E a experiência na frente das câmeras lhe deu a confiança para laçar esse papel pelos chifres e transformar em algo seu. Isaac Amendoim é o Chico Bento. E o melhor é que fica natural, crível e leve.

Em Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, Chico tem um sotaque carregado do interior na medida certa, sem um jeito de falar forçado e caricato de muitas produções. Ele fica emburrado com facilidade, mas também faz as maiores bobajadas com um sorriso inocente no rosto. Simplesmente é impossível cansar de ver o pequeno Isaac comandando o filme como se fosse fácil, coisa que muitos atores experientes sofrem para fazer.

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa Agronegocio

O puro carisma do menino prende a atenção mesmo quando o roteiro não entrega nada muito elaborado. Afinal, a história é bem simples. Está até no nome do filme. Este longa é sobre o Chico Bento… E uma goiabeira maraviósa. O roteiro constrói uma importância maior para a fruta, mas no final não deixa de ser uma história sobre um menino do interior muito apegado com a sua vida boa de criança disposto a fazer de tudo para impedir que as coisas mudem, que ele cresce e perca a magia de ser pequeno.

Um empresário endinheirado quer derrubar a tal goiabeira para construir a estrada, o que movimenta a trama de uma forma bastante interessante. Primeiro ao estabelecer o inescrupuloso agronegócio como o principal vilão — algo essencial em uma história pensada para retratar os conflitos da vida na roça. O maior inimigo do pequeno agricultor, como a família de Chico Bento, são os grandes latifundiários, com sua ambição insaciável disposta a devorar tudo em seu caminho.

A forma como cada personagem reage ao progresso predatório também chama bastante atenção, principalmente os adultos. Traz um leve comentário sobre problemas reais de quem mora no interior que acrescentam camadas interessantes para os mais velhos refletirem. E, além disso, essa ameaça a goiabeira ainda tira Chico Bento de sua zona de conforto, trazendo uma oportunidade de ver outras facetas do personagem, em especial seu lado mais teimoso.

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa Nho Lau Lobianco

Mesmo em sua teimosia, é incrível assistir a química inquestionável do personagem com praticamente todo mundo do elenco. A Rosinha, de Anna Julia Dias, e a Tábata, de Lorena Oliveira, apresentam um contraponto mais centrado para o personagem que funciona muito bem. Zé Lele rouba as cenas em muitos momentos, com um humor honesto e seu jeito atrapalhado. Mas quem realmente surpreende é Luis Lobianco e seu Nhô Lau, o dono das goiabeiras.

Lobianco entrega uma atuação bem competente, como se espera de um ator experiente. Consegue construir um personagem ranzinza, carrancudo, sem perder o carisma. O interessante mesmo é a dinâmica absurdamente magnética com o Isaac Amendoim. O jeito que os dois se alfinetam em cena, demonstrando um carinho muito genuíno, mesmo quando as palavras dizem o contrário, é de encher o coração. Certamente um dos pontos altos do longa.

Não podemos deixar de elogiar, também, o humor construído pelo roteiro. Repleto de piadas simples e bobas, impossível não se sentir como se estivesse lendo os gibis do próprio Maurício de Sousa. Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa entende no seu âmago a essência de Turma da Mônica. Sem mergulhar numa seriedade exagerada, típica das excelentes graphic novels da franquia, o longa se permite ser mais suave e mais sincero, sem precisar abandonar a profundidade.

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa Tais Araujo

Afinal, além de tudo, a produção ainda é bastante madura. Sem medo de atrapalhar o ritmo da história, os produtores encontram espaço para brincar com a própria mídia cinematográfica com muita firmeza, incluindo referências a filmes clássicos, como 2001: Uma Odisseia no Espaço, e até mesmo mudando completamente de formato quando se faz necessário. Lembra bastante a irreverência de Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo, em alguns momentos.

Saber a hora de não se levar a sério, mesmo quando a sua mensagem é relevante, não é algo que qualquer diretor consegue fazer. E ao abrir a mão de se explicar demais e confiar que o público vai embarcar nas bobagens de Chico Bento e sua turma, A Goiabeira Maraviosa conseguiu entregar uma aventura divertida, que bota para refletir sem perder o foco do que realmente importa — fazer as crianças sorrirem.

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa já está em cartaz nos cinemas.

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